Publicado: 04/12/19 às 11h42
Texto por: Luciana Vidal; Foto por: Estela Frizo
Muitos puderam acompanhar nos últimos dias o caso de Chico, o cão destruidor que ficou famoso por
despedaçar o colchão de sua tutora. O vídeo, que viralizou na internet, mostra
uma realidade comum em muitos lares: a dificuldade que os donos têm de educar
seus pets.
Chico cativou o público com sua
fofura, mas convenhamos: ninguém merece chegar em casa e se deparar com uma
cena dessas, não é mesmo? “Cães que não têm regras ou limites apresentam inúmeros
comportamentos indesejados simplesmente porque não sabem o que é esperado deles”,
afirma a adestradora e tosadora apucaranense Beatriz Lopes Mourinho, 23 anos.
Segundo ela, prevenir
é sempre melhor que remediar, ou seja, é muito mais fácil e rápido treinar um
cão logo cedo, antes que comecem a aparecer os problemas. O adestramento torna a comunicação mais clara,
fortalece o vínculo e previne comportamentos indesejados, além de ser um ótimo
estímulo físico e mental para os animais.
Saiba mais nesta entrevista!
Hope! - Qual a importância
de manter um bom relacionamento com o cão?
Beatriz – O cão é o melhor
amigo do homem. Para que haja uma boa convivência, precisa haver carinho, amor,
fidelidade, confiança e, acima de tudo, limites. Esse é um bom relacionamento
para ambos.
Hope! - Você
acredita que o comportamento do cachorro é reflexo da criação que ele recebe? O
que influencia mais – raça ou criação?
Beatriz – Essa é uma
pergunta que ouço bastante e a resposta quase sempre frustra, porque não é
simples. Tanto a raça como a forma com que você cria o cão influenciam no
comportamento. Um Beagle, por exemplo, sempre será um cachorro cheio de
energia, enquanto um Akita é mais discreto, silencioso. O Lhasa Apso, apesar de
pequeno, é mais temperamental e dominante. Por isso, antes de levar para casa
um cachorro é fundamental pesquisar e escolher o mais adequado para a sua
rotina diária, pois cada raça tem uma carência diferente.
Hope! - No seu
trabalho, quais são as queixas mais comuns dos donos de cachorros e por que
elas ocorrem?
Beatriz – Muitos me
procuram porque querem que o cachorro pare de pular. Na maioria das vezes, isso
ocorre porque a pessoa sai de casa pela manhã e só volta no final da tarde,
deixando o animal sozinho. Quando chega, o cão fica excitado, feliz, e na
recompensa da felicidade ele pula. O dono, todo feliz, elogia e recompensa. Isso
vai gerando uma ansiedade, pois o cachorro entende que toda vez que o dono
chega ele terá o que quer: carinho. O correto é esperar o cão se acalmar,
sentar e ficar bem tranquilo, para só depois dar o reforço positivo, a
recompensa que ele quer, que é estar perto do dono.
Morder
é outra queixa comum. “Ah, meu cachorro
morde muito a minha mão, fica brincando de morder”. O cachorro nunca deve
brincar de morder o tutor. Ao invés disso, deixe que ele morda um brinquedo.
São reforços errados que o dono está passando para o cão e ele entende isso
como algo bom.
Também
reclamam bastante que o pet faz as necessidades no lugar errado e acreditam que
esfregar seu focinho no xixi ou cocô vai resolver. O máximo que pode acontecer
é o cão ficar com medo e continuar fazendo no lugar errado, porém escondido. O correto
é dar um agrado, um petisco todas as vezes que ele fizer no local certo, ou
seja, associar algo bom para que o cachorro consiga entender o que o dono quer.
Hope! - Qual é o
erro que os donos mais cometem na criação?
Beatriz – Não procurar o
conhecimento de um profissional da área para a educação e satisfação do seu
cão.
Hope! - Todos os
cães são capazes de aprender ou há exceções?
Beatriz – Sim. Todos são,
independente da raça.
Hope! - Assim
como o abandono, o excesso de carinho pode ser prejudicial?
Beatriz – O exagero nunca
é bom. Excesso de amor, cuidado, atenção e concessão também pode ser
prejudicial. Isso não quer dizer que não podemos mimá-los, mas sim que devemos aprender
mais sobre a raça para saber o momento adequado de dar o reforço positivo.
Hope! - Cite as
principais vantagens do adestramento.
Beatriz – O adestramento é
uma prática que vai muito além de ensinar o “senta, deita, rola, pega a
bolinha, dá a patinha”. É uma fase de educação do cão, o momento que ele
consegue entender o que queremos dele. Além disso, o treinamento ajuda a
melhorar a comunicação e o convívio entre o cão e o dono, deixando-o mais
tranquilo em casa e contribuindo para que ele se socialize melhor com os outros
animais e pessoas desconhecidas.
Com
o adestramento, o pet também fica menos estressado. Isso evita surpresas, como
as bagunças dentro de casa. Vocês ficam mais próximos, mais ligados. O cão
entenderá o que o dono quer com mais facilidade e, assim, a convivência será
mais tranquila entre ambos.
Hope! - O que
você gostaria que as pessoas entendessem sobre adestramento?
Beatriz – O adestramento
de cães mudou muito ao longo do tempo. Hoje o profissional busca entender o
comportamento do pet e do tutor, para só depois ensinar os comandos essenciais.
O tutor, muito feliz, exibe para os amigos e a família as gracinhas do seu pet.
O
especialista prioriza a abordagem comportamental, montando um treinamento
depois de uma análise individual, tanto do animal quanto da família. Isso abrange
tanto a obediência quando o respeito, que são obtidos por meios de consideração
e dignidade. Somente boas intenções não bastam.
Os
animais considerados “problemáticos”, ou seja, aqueles que apresentam desvios
de comportamento, na verdade são resultado de uma falha de comunicação entre as
duas espécies. A tarefa do adestrador é apresentar o cão ao seu proprietário,
tornando o convívio entre eles muito mais harmonioso e feliz.