Publicado: 21/02/20 às 11h22
Texto: Vanuza Borges e fotos de: Estela Frizzo
Varizes são um problema comum, em especial entre as mulheres
adultas que são as maiores vítimas do distúrbio venoso. Segundo a Sociedade
Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), as varizes acometem
40% da população brasileira adulta, porém este índice fica ainda maior de
acordo com o avanço da idade. A boa notícia vem da ciência médica que a cada
dia apresenta novas técnicas para tratamento dessa doença. Assim, cirurgias
menos agressivas, como a laser e a radiofrequência, vêm ganhando espaço por tornar
o procedimento com menor tempo de recuperação pós-operatório.
O cirurgião vascular, Rogério Yoshikazu Nabeshima, de Apucarana, esclarece as
principais dúvidas sobre o tema e revela os tratamentos mais usados na
atualidade, além de alertar para o risco de não tratar as varizes de forma
adequada, o que pode levar em estágios mais avançados a formação de úlceras
venosas, ou seja, feridas.
Rogério Nabeshima é graduado em Medicina pela Universidade Positivo, de Curitiba,
fez residência em Cirurgia Geral pelo Hospital Universitário de Londrina e residência
em Cirurgia Vascular pelo Hospital Santa Rita de Maringá. Possui título de especialista
em Cirurgia Vascular e Cirurgia Endovascular pela Sociedade Brasileira de
Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), da qual é membro efetivo, e de título
de especialista em Ecografia Vascular com Doppler pelo Colégio Brasileiro de
Radiologia (CBR).
Hope - Para começarmos a entender o assunto, o que
são varizes?
Nabeshima – São consideradas varizes todas as veias dilatadas, tortuosas e
com a presença de refluxo. As veias têm a função de levar o sangue das pernas
em direção ao coração e, quando ocorre o refluxo, ao invés de o sangue fluir
para o coração, ele também desce em direção às pernas e aos pés podendo
ocasionar todos os sintomas dessa doença.
Hope - Quais são os principais sintomas apresentados por
pessoas com varizes?
Nabeshima - Pessoas com varizes costumam apresentar as veias tortuosas e
inchadas nas pernas, que ficam bem aparentes na pele. No entanto, os sintomas
mais comuns são a sensação de pernas pesadas, cansaço nas pernas, dores e ardor
nos membros inferiores. Em estágios mais avançados surgem o edema (inchaço) e
as alterações tróficas de pele como eczema venoso (pele descamativa que pode
estar associada a coceira), dermatite ocre (pele mais acastanhada) e finalmente
a úlcera venosa. No entanto, é muito comum os pacientes se queixarem do aspecto
estético, pela presença das telangiectasias (“vasinhos”) ou das varizes
propriamente ditas devido a saliência das veias.
Quais são as formas mais comuns de apresentação das varizes?
As varizes são classificadas de acordo com seu calibre (diâmetro) em três
tipos: telangiectasias, veias
reticulares e varizes tronculares.
Telangiectasias – São as mais comuns e popularmente são chamadas de
vasinhos. Tem cor arroxeada ou avermelhada, são bem superficiais e não
representam nenhum grande problema de saúde vascular. Neste caso, a preocupação
da maioria das pessoas é estética, pois a aparência das pernas fica comprometida.
Porém, como qualquer caso de varizes, a circulação nessas veias, que são mais
fininhas, também foi comprometida e pode provocar a sensação de queimação, cansaço
e peso nas pernas.
Veias reticulares – Também chamadas de microvarizes, as varizes
reticulares são maiores que os vasinhos (telangiectasias), porém têm menos de 3
mm de diâmetro. Assim como no caso anterior, não representam grandes riscos à
saúde.
Varizes tronculares – São as varizes propriamente
dita, veias dilatadas e tortuosas com calibre acima de 3mm de diâmetro, que
ficam saltadas à pele. Nessa forma de apresentação que pode afetar a veia
safena e causar os sintomas típicos, como sensação de cansaço e dores nas pernas.
As varizes tronculares também são
consideradas as mais perigosas, uma vez que acarretam complicações como flebite
(inflamação das veias), úlceras venosas (feridas) e pode até predispor a
formação de trombose venosa profunda (TVP). A TVP ocorre quando há a formação
de coágulos (trombos) nas veias profundas da perna, bloqueando ou dificultando
a passagem de sangue, causando muita dor e edema importante do membro acometido.
Hope - Quais tratamentos são os mais indicados para as
varizes?
Nabeshima – Para cada tipo de varizes, o médico especialista em cirurgia
vascular, após avaliar o paciente, irá indicar o melhor tratamento. São vários
os tratamentos possíveis. Porém, em linhas gerais, para casos de telangiectasias
(vasinhos) o mais comum é a escleroterapia, mais conhecida como aplicação. Procedimento
que consiste na injeção de substâncias esclerosantes, como glicose, etamolin,
polidocanol, entre outros medicamentos. Outra opção, para casos de vasinhos é o
tratamento com laser transdérmico.
Para casos de varizes reticulares, também pode-se optar por aplicação,
microcirurgias com anestesia local, aplicação de espuma (procedimento eficaz,
mas que pode deixar a pele manchada por um período) e também o laser
transdérmico.
Já em casos de varizes tronculares, que representam maior
gravidade, o melhor tratamento é o cirúrgico. A cirurgia pode ser convencional,
a laser endovenoso ou por radiofrequência. Nessa situação, a aplicação de
espuma também pode ser realizada, embora tenha menor eficácia que os
tratamentos cirúrgicos.
Hope - Quais as principais diferenças entre as cirurgias
para varizes?
Nabeshima – Nos últimos anos, as cirurgias têm se tornado, cada vez mais,
menos agressiva ao corpo do paciente. No caso das varizes, não é diferente.
Temos desde a cirurgia convencional, na qual todo o tratamento, inclusive a
retirada da safena, é feito através de cortes na pele. O tempo de internamento
é, em média, de dois dias e a de recuperação pós-operatória de 30 dias.
Já as cirurgias a laser endovenoso ou por radiofrequência que têm por objetivo
“secar” a veia safena traz como vantagem o tempo de recuperação menor, inferior
a uma semana. Além disso, este tipo de cirurgia tem um pós-operatório com menos
hematomas e muito menos dores que a cirurgia convencional.
A cirurgia de varizes, que retira as veias, compromete o
sistema circulatório?
Nabeshima – Não compromete o sistema vascular da pessoa, uma vez que as
veias afetadas pelas varizes são superficiais, ou seja, ficam superficiais ao
compartimento muscular e representam apenas 15 a 20% do sangue nas pernas que
retorna ao coração, enquanto o sistema venoso profundo, que fica dentro do
compartimento muscular, representa de 80
a 85%. Ou seja, na cirurgia de varizes estamos retirando veias que não
representam significativamente o sistema venoso dos membros inferiores e que,
ainda, estão doentes trazendo uma dificuldade para essa circulação venosa.
Hope - E no caso da veia safena, quando retirada por causa de varizes, pode ser
substituída caso venha precisar fazer uma cirurgia cardiovascular (ponte de
safena)?
Nabeshima – Quem não tem a safena, pode utilizar outras veias do corpo ou até
algumas artérias, como a artéria radial ou a artéria mamária interna. Deve-se
lembrar que a retirada da veia safena só será feita se ela estiver comprometida.
E nesses casos, uma veia safena dilatada e insuficiente, não tem condições de
ser utilizada como ponte para cirurgias cardíacas ou para enxertos em membros
inferiores.
Hope - As varizes voltam?
Nabeshima – As varizes retiradas ou tratadas não voltam. O que pode ocorrer
é a doença venosa (própria de cada paciente) atingir outras veias que
previamente não estavam doentes e o paciente voltar a apresentar os mesmos
sintomas e precisar realizar um novo tratamento.
Hope – E, por fim, a aplicação, que é o procedimento mais
comum, dói?
Nabeshima – A sensação de dor depende muito da
sensibilidade de cada um. Porém, algumas técnicas ajudam a diminuir a dor, como
escolha de agulhas mais finas e do tipo de produto a ser injetado. Por exemplo,
no meu consultório, utilizo agulhas de insulina, que são mais finas, e prefiro utilizar
a associação de glicose ao polidocanol, para desidratar a veia, porque diminui
a sensibilidade dolorosa provocada pela glicose isolada.